O Sexo e os Deuses
Rituais pré-históricos e a Grande Mãe
Como instinto e meio de perpetuar a espécie, o sexo é tão velho quanto as primeiras formas de vida, tão velho quanto a galáxia da qual somos uma diminuta parte. Podemos ir um pouco adiante e dizer que o sexo, de uma forma ou de outra, sempre existiu e que é o primeiro princípio: criar, sobreviver, crescer, transmitir a substância genética da vida e experiência, e encorajar cada espécie a evoluir o máximo que puder. Os dinossauros e os tigres-de-dentes não o conseguiram, mas o homem pegou o jeito bem rápido; para nós o sexo funcionou como mágica!
Desde tempos imemoriais, o êxtase sexual, a religião e a magia estiveram ligados indissoluvelmente. É um vínculo natural: nós comemos quando sentimos fome e nos sentimos satisfeitos, nós dormimos quando sentimos cansados e nos sentimos bem quando acordamos refeitos, mas, quando alcançamos juntos o orgasmo, experimentamos êxtase físico e mental completo. Daí para considerar esse sentimento uma coisa oriunda dos Deuses e usá-lo para se comunicar com e adorar esses Deuses foi um passo óbvio. As pinturas ruprestes não deixam dúvidas de que as tribos pré-históricas usavam o acto sexual nas suas celebrações ritualísticas, em obras de arte, tais como a "Vênus de Willendorf", testemunham sua reverência à fertilidade das mulheres e a sua capacidade de gerar a vida. O útero foi o primeiro, e para o mago continua sendo o principal, exemplo de cálice sagrado, com a função de ser o elo de comunicação entre a humanidade e algo superior.
Levou bastante tempo para o homem perceber que era necessário o casal para trazer uma criança à vida, assim como demorou para ele descobrir que o falo erecto, fonte de tanto prazer pessoal, era, na verdade, parte altamente poderosa e importante de todo o ciclo da fertilidade. Desse momento em diante, ele começou a manobrar a grande virada do sistema matriarcal para o patriarcal, e a transferência do culto ao útero para o culto ao falo. Não me proponho a discorrer sobre essa mudança histórica, porque esse assunto já foi muito bem abordado por outros escritores, como Merlim Stone, no seu excelente livro "The Ancient Mirrors of Womanhood".
O sexo e a religião não podem ser separados porque um tem suas raízes no outro, e deles emergiram os principais rituais mágicos. Para as tribos primitivas, a necessidade de fertilidade era um imperativo não só para as suas mulheres, a fim de combater o alto grau de mortalidade infantil, mas também para os seus rebanhos, fornecedores de grande parte da alimentação. As mulheres excepcionalmente férteis eram olhadas com reverência e consideradas possuidoras de poderes especiais e altamente favorecidas por algum toque mágico que as fazia das à luz com tanta frequência. Para essa humanidade primitiva, qualquer mulher ou homem que se encaixassem no seu conceito de ser ideal era visto como mais do que humano e elevado à categoria de Deus encarnado. Uma mulher fértil com fartos seios e largos quadris, aumentados por tantas gerações sucessivas, deveria ter-se tornado o modelo ideal, uma cópia da Deusa-Mãe. Ela foi o protótipo da sacerdotisa da Deusa e, portanto, vista pela tribo como sua contraparte terrena.
Enquanto pudesse gerar filhos, tal mulher tinha muito poder dentro da tribo. As evidências apontam o costume de os melhores caçadores usarem os chifres dos animais por eles abatidos em homenagem à força e a coragem desses animais. Assim, ao fazer sexo com uma mulher fértil logo após a caçada, essas qualidades seriam transferidas, por meio de um rito sexual, para a criança que iria nascer, e que, por sua vez, herdaria esses poderes e, consequentemente, enriqueceria a vida da tribo. Outra crença é a de que o animal que sacrificava a sua vida para alimentar a tribo era recompensado com o renascimento sob forma humana. Essa deve ter sido uma das maneiras pelas quais os mitos de seres meio humanos meio animais, como o centauro, entraram na consciência da humanidade.
O Deus de Chifres e a Deusa
Dessas crenças e práticas surgiu um dos mitos mais antigos, o da união da Deusa fértil com o caçador fálico, o primeiro Deus de Chifres, tirados de sua última presa. Quanto maior o sucesso do caçador em fornecer alimento para a tribo, maior o seu status entre o grupo e maior a possibilidade de ele ser escolhido para fecundar a "Mãe" e dar-lhe prazer sexual até a caçada seguinte.
Essas celebrações devem ter acontecido quando as manadas se reuniam, na primavera, para parir seus rebentos e, novamente, no final do verão, quando se juntavam, antes da migração. Assim, uma caçada com a duração de muitos dias e envolvendo cada homem que pudesse manejar uma lança seria um ritual semestral. A primeira caçada alimentaria a tribo faminta após os longos meses de inverno; a segunda propiciaria a estocagem de comida para os meses de frio que logo chegariam.
Uma mulher inteligente e poderosa, de posse de sua intuição feminina, poderia ter capacidade de influenciar o resultado da caçada com a promessa dos seus favores sexuais ao macho que fosse melhor caçador. Motivados por tal promessa, os homens devem ter-se sentido quase invencíveis ao lançar à lança, e isso deve ter contribuído para melhorar a sua habilidade e determinação. Sentindo-se magicamente protegida, essa tribo deve ter crescido em número, se alimentando bem e vivendo mais, recebendo, assim, provas adicionais, se é que precisava, da benevolência da Grande Mãe.
A fim de encorajar os outros caçadores, a união deve ter sido provavelmente um ritual público, assistido por todo o grupo - algo que hoje poderíamos achar até repugnante, mas que se constituía em costume em muitas culturas. Enquanto os caçadores mal-sucedidos observavam - todos com inveja -, os mais velhos contavam histórias picantes sobre suas proezas sexuais, então em declínio, e os rapazes e moças, ainda muito jovens para as caçadas, eram encorajados a antever suas próprias uniões.
Os homens escolhidos devem ter sido bastante invejados, e os outros se devem ter empenhado em aprimorar suas habilidades de caçador, para poder ter o seu lugar junto à "Mãe" no próximo grande ritual. A competição e a rivalidade devem ter sido muito acirradas entre os homens, levando, inevitavelmente, a lutas entre eles. Mais tarde, essas lutas transformaram-se em disputas de habilidade física - corridas, provas de força, combates, etc. -, e isso fornecia, à comunidade, entretenimento e, à alta sacerdotisa, os melhores genes para as crianças nascidas daquelas uniões. À medida que a mulher escolhida ia envelhecendo e não dava mais à luz com tanta frequência, ela deveria escolher outra, mais jovem, para ocupar o seu lugar. A matrona, mais sábia, instalaria a sua sucessora com cânticos, passos marcados e o bater de ossos e chocalhos de sementes, pois os rituais mais elaborados ainda não haviam sido criados. Provavelmente, ela manteria a sua influência sobre a jovem por muito tempo, talvez até sua morte, o que seria visto como o seu retorno à Deusa.
Dolores Ashcroft-Nowicki, "A Árvore do Êxtase", Bertrand Brasil.
(adaptado de http://members.fortunecity.com/entremundos1/sexgods.htm)
Como instinto e meio de perpetuar a espécie, o sexo é tão velho quanto as primeiras formas de vida, tão velho quanto a galáxia da qual somos uma diminuta parte. Podemos ir um pouco adiante e dizer que o sexo, de uma forma ou de outra, sempre existiu e que é o primeiro princípio: criar, sobreviver, crescer, transmitir a substância genética da vida e experiência, e encorajar cada espécie a evoluir o máximo que puder. Os dinossauros e os tigres-de-dentes não o conseguiram, mas o homem pegou o jeito bem rápido; para nós o sexo funcionou como mágica!
Desde tempos imemoriais, o êxtase sexual, a religião e a magia estiveram ligados indissoluvelmente. É um vínculo natural: nós comemos quando sentimos fome e nos sentimos satisfeitos, nós dormimos quando sentimos cansados e nos sentimos bem quando acordamos refeitos, mas, quando alcançamos juntos o orgasmo, experimentamos êxtase físico e mental completo. Daí para considerar esse sentimento uma coisa oriunda dos Deuses e usá-lo para se comunicar com e adorar esses Deuses foi um passo óbvio. As pinturas ruprestes não deixam dúvidas de que as tribos pré-históricas usavam o acto sexual nas suas celebrações ritualísticas, em obras de arte, tais como a "Vênus de Willendorf", testemunham sua reverência à fertilidade das mulheres e a sua capacidade de gerar a vida. O útero foi o primeiro, e para o mago continua sendo o principal, exemplo de cálice sagrado, com a função de ser o elo de comunicação entre a humanidade e algo superior.
Levou bastante tempo para o homem perceber que era necessário o casal para trazer uma criança à vida, assim como demorou para ele descobrir que o falo erecto, fonte de tanto prazer pessoal, era, na verdade, parte altamente poderosa e importante de todo o ciclo da fertilidade. Desse momento em diante, ele começou a manobrar a grande virada do sistema matriarcal para o patriarcal, e a transferência do culto ao útero para o culto ao falo. Não me proponho a discorrer sobre essa mudança histórica, porque esse assunto já foi muito bem abordado por outros escritores, como Merlim Stone, no seu excelente livro "The Ancient Mirrors of Womanhood".
O sexo e a religião não podem ser separados porque um tem suas raízes no outro, e deles emergiram os principais rituais mágicos. Para as tribos primitivas, a necessidade de fertilidade era um imperativo não só para as suas mulheres, a fim de combater o alto grau de mortalidade infantil, mas também para os seus rebanhos, fornecedores de grande parte da alimentação. As mulheres excepcionalmente férteis eram olhadas com reverência e consideradas possuidoras de poderes especiais e altamente favorecidas por algum toque mágico que as fazia das à luz com tanta frequência. Para essa humanidade primitiva, qualquer mulher ou homem que se encaixassem no seu conceito de ser ideal era visto como mais do que humano e elevado à categoria de Deus encarnado. Uma mulher fértil com fartos seios e largos quadris, aumentados por tantas gerações sucessivas, deveria ter-se tornado o modelo ideal, uma cópia da Deusa-Mãe. Ela foi o protótipo da sacerdotisa da Deusa e, portanto, vista pela tribo como sua contraparte terrena.
Enquanto pudesse gerar filhos, tal mulher tinha muito poder dentro da tribo. As evidências apontam o costume de os melhores caçadores usarem os chifres dos animais por eles abatidos em homenagem à força e a coragem desses animais. Assim, ao fazer sexo com uma mulher fértil logo após a caçada, essas qualidades seriam transferidas, por meio de um rito sexual, para a criança que iria nascer, e que, por sua vez, herdaria esses poderes e, consequentemente, enriqueceria a vida da tribo. Outra crença é a de que o animal que sacrificava a sua vida para alimentar a tribo era recompensado com o renascimento sob forma humana. Essa deve ter sido uma das maneiras pelas quais os mitos de seres meio humanos meio animais, como o centauro, entraram na consciência da humanidade.
O Deus de Chifres e a Deusa
Dessas crenças e práticas surgiu um dos mitos mais antigos, o da união da Deusa fértil com o caçador fálico, o primeiro Deus de Chifres, tirados de sua última presa. Quanto maior o sucesso do caçador em fornecer alimento para a tribo, maior o seu status entre o grupo e maior a possibilidade de ele ser escolhido para fecundar a "Mãe" e dar-lhe prazer sexual até a caçada seguinte.
Essas celebrações devem ter acontecido quando as manadas se reuniam, na primavera, para parir seus rebentos e, novamente, no final do verão, quando se juntavam, antes da migração. Assim, uma caçada com a duração de muitos dias e envolvendo cada homem que pudesse manejar uma lança seria um ritual semestral. A primeira caçada alimentaria a tribo faminta após os longos meses de inverno; a segunda propiciaria a estocagem de comida para os meses de frio que logo chegariam.
Uma mulher inteligente e poderosa, de posse de sua intuição feminina, poderia ter capacidade de influenciar o resultado da caçada com a promessa dos seus favores sexuais ao macho que fosse melhor caçador. Motivados por tal promessa, os homens devem ter-se sentido quase invencíveis ao lançar à lança, e isso deve ter contribuído para melhorar a sua habilidade e determinação. Sentindo-se magicamente protegida, essa tribo deve ter crescido em número, se alimentando bem e vivendo mais, recebendo, assim, provas adicionais, se é que precisava, da benevolência da Grande Mãe.
A fim de encorajar os outros caçadores, a união deve ter sido provavelmente um ritual público, assistido por todo o grupo - algo que hoje poderíamos achar até repugnante, mas que se constituía em costume em muitas culturas. Enquanto os caçadores mal-sucedidos observavam - todos com inveja -, os mais velhos contavam histórias picantes sobre suas proezas sexuais, então em declínio, e os rapazes e moças, ainda muito jovens para as caçadas, eram encorajados a antever suas próprias uniões.
Os homens escolhidos devem ter sido bastante invejados, e os outros se devem ter empenhado em aprimorar suas habilidades de caçador, para poder ter o seu lugar junto à "Mãe" no próximo grande ritual. A competição e a rivalidade devem ter sido muito acirradas entre os homens, levando, inevitavelmente, a lutas entre eles. Mais tarde, essas lutas transformaram-se em disputas de habilidade física - corridas, provas de força, combates, etc. -, e isso fornecia, à comunidade, entretenimento e, à alta sacerdotisa, os melhores genes para as crianças nascidas daquelas uniões. À medida que a mulher escolhida ia envelhecendo e não dava mais à luz com tanta frequência, ela deveria escolher outra, mais jovem, para ocupar o seu lugar. A matrona, mais sábia, instalaria a sua sucessora com cânticos, passos marcados e o bater de ossos e chocalhos de sementes, pois os rituais mais elaborados ainda não haviam sido criados. Provavelmente, ela manteria a sua influência sobre a jovem por muito tempo, talvez até sua morte, o que seria visto como o seu retorno à Deusa.
Dolores Ashcroft-Nowicki, "A Árvore do Êxtase", Bertrand Brasil.
(adaptado de http://members.fortunecity.com/entremundos1/sexgods.htm)
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